quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Horizonte


Não chore. Não tema. Mamãe sempre estará com você. Essas palavras foram guardadas no meu coração. Foram ditas quando eu era pequena. Estava correndo com alguns amigos do condomínio e caí ralando meu joelho. Ralei feio, sentia muita dor. Mas o tempo passou. Outras dores vieram. Umas físicas outras emocionais. Sempre havia o colo para chorar. O medo sempre passava. Minha mãe sempre foi minha amiga.
Os anos quando passam trazem desencontros. Trazem desacordos, brigas, tristezas, desavenças. Os anos passaram e a amiga que sempre tive, não estava tão disposta, eu não estava tão disposta, a vida era indisposta.
Mas a gente sente falta, muita falta dos tempos que passam.
-Filha, o café está pronto.
-Só um pouco mãe.
-Filha, pelo amor de Deus, coloque mais blusa: o noticiário falou que a temperatura vai cair.
-Mãe, vamos ver um filme hoje?
-Tenho muita coisa para ler, hoje não tem como.
Minha mãe aos 60 aos caiu em depressão. Foi o momento que larguei tudo que fazia e resolvi me dedicar. Aliás, fazer com que minha mãe se dedicasse a algo. O jornal de uma manhã estampava o rosto de um velhinho japonês. Olhos bondosos e um semblante de felicidade. Não era cansaço, mas os anos já pesavam na aparência.
-Mãe, esse senhor com 71 anos subiu o Everest. Imagine!
Minha mãe era muito ativa, principalmente para alguém com depressão e com 60 anos. Mas subir uma montanha era realmente um prodígio.
Fui ao supermercado depois do almoço, deixei minha mãe dormindo. Quando voltei, ela estava ao telefone.
-Filha, vou começar a fazer dança de salão, o que acha?
-Acho ótimo. Se do outro lado do mundo alguém pode subir o Everest por que você não pode se sacudir?
Minha mãe começou a chorar, o que já era rotina.
-Não chore. Não tema. Eu sempre estarei com você. Você vai melhorar.
Ela enxugou as lágrimas delicadamente e depois me disse que queria que eu vivesse minha vida novamente. Todas as tardes, depois do trabalho, buscava a velhinha faceira nas aulas de dança. Ela conseguiu subir ao topo da vida. Porque o vale em que se encontrava era profundo demais para sobreviver. Agora ela conseguia ver o horizonte. Bem grande.

4 comentários:

Unknown disse...

Tadinha da mãe...ela ta muito doente???

Sheila Gorski disse...

Ai...essas pessoas que não sabem fazer de conta...
=D
Brincando manenhá!
Amo você!

Unknown disse...

Melhor eu ficar quieta

Andressa Berkenbrock disse...

Até ei acreditei que era verdade... bléeeeeeee...